Um Periquita Clássico quase esquecido.

Fui almoçar na casa do Polaco durante a semana. Apesar do calor infernal que faz no Rio, já sabia que seria aberto um tinto quando eu chegasse. Tudo bem, com o ar condicionado ligado, eu faria esse sacrifício.
Meu anfitrião me mostra uma garrafa de rótulo surrado e diz: "olha o que eu achei lá em cima. Um Periquita Clássico de 10 anos!". Polaco tem uma adeguinha climatizada embaixo, aonde guarda os vinhos comprados mais recentemente e os mais importantes. Os outros, comprados há mais de 4 ou 5 anos, ele deixa assando numa adega de madeira na parte de cima de sua residência, onde quase ninguém vai. A última vez que estive lá em cima e dei uma bisbilhotada eu vi pelo menos umas 3 ou 4 garrafas interessantes.

Esse Periquita Clássico 2001, que guardava ainda a etiqueta com seu preço, deve ter sido comprado na Cadeg, Zona Sul ou Mundial. Estávamos seriamente desconfiados de sua integridade gustativa. Polaco abriu a garrafa e deixou a patroa ter a tarefa de descobrir se o vinho iria pro ralo ou pras taças. Ela provou e decretou: "Não tá estragado coisa nenhuma! Está ótimo!"

Maravilha! Foi pra minha taça e estava realmente bom. Aquele cheiro de ameixa bem nítido, que foi aumentando conforme respirava. A cor já não era tão fechada, um atijolado era percebido nos reflexos mais claros. Estava bem gostoso mesmo. O tanino bem sedoso e leve. Bela surpresa.

No contra-rótulo as informações dos gajos dão conta de que o Periquita clássico só é feito em anos de particular qualidade e só com as uvas Castelão. Recomendam harmonização com carnes. E nisso o almoço também ajudou. A patroa do Polaco é famosa pelos dotes culinários e nesse dia caprichou um Filet Mignon que fez o vinho crescer ainda mais.

Esse almoço me fez suportar bem as 14 horas de trabalho ininterrupto que vieram a seguir. Sem ele, essas horas se multiplicariam. Tô Precisando almoçar por lá mais vezes durante a semana.

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Casas del Toqui Reserva 2009 - Cabernet Sauvignon


A Sociedade da Mesa muitas vezes é terrível. Desorganização, atrasos, confusões nas entregas, remessas repetidas, remessas erradas, etc. E só de sacanagem eu vivo dificultando a vida deles. Não é todo mês que eu deixo vir os vinhos. Combino com um amigo que também é "sócio" e só deixamos vir as remessas que achamos interessantes ou então montamos uma remessa com os vinhos de meses anteriores. Dividimos a caixa com 4 garrafas entre nós dois. Já fiquei 3 meses cancelando as remessas mensais nesse esquema.

Esse chileno veio acompanhado de um pinot noir. Logo, ficou um cabernet e um pinot pra cada.
Não conhecia essa Bodega. Pelo que li no site, o vinho está sendo lançado agora aqui. Tomei-o com o Jujuba, aquele do Porto de 30 anos em garrafa Pet. Um Cabernet Chileno, reserva, e de 2009, fez com que ficássemos na expectativa de um tiro de bazuca ao abrirmos a garrafa. E ele veio. Era o que precisávamos mesmo nesse pré-carnaval sangrento que estamos tendo.

Na taça escuro. No nariz veio fechadinho. Na boca o primeiro gole foi uma voadora que acertou minha garganta em cheio. PoW!!!
Foi melhorando consideravelmente na taça. A respiração o fez muitíssimo bem. Pareceu ter boa estrutura e capacidade pra uns aninhos de guarda. Quando acabou, já tava dando aquela vontade de "quero mais".

Talvez um dia eu o peça numa remessa especial. Ou talvez um dia ele me apareça numa remessa errada. 
Quem sabe?

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Uma chance em uma vida: um vinho Tailandês


Existem dois conceitos importantes que dizem respeito ao mundo do vinho.
Um deles é o ocidental "custo de oportunidade". E se em economia, expressa o custo de algo em termos de uma oportunidade renunciada, acho que quando transposto pros vinhos é "não deixar pra trás aquela garrafa incrível num lugar aonde vamos pouco só porque estava cara".
Era justamente sobre esse Dom Perignon 2002 - que a patroa achou além da conta no free shop - que eu estava pensando, quando um grupo de jovens vestidos de estudantes invadiu a estação de trem Hua Lamphong, em Bangkok, e abruptamente começou a tocar um rock bacaninha, gravando um videoclipe.
Eu sabia que, 17 horas depois, perto da fronteira com a Malásia, as minhas chances com um vinho bacana seriam muito mais remotas. E o custo de oportunidade parecia o grilo falante, sentado em meu ombro, me dando um baita remorso.


Uns dias depois, já meio conformado, consolado pela beleza da ilha onde estávamos - longe dos densos cardumes de turistas de Phuket e Phi Phi - andava por uma ruazinha (a maior "avenida comercial" do lugar), quando vi uma garrafa de um vinho tailandês! E pela exorbitância de 650 bahts (preço de praia remota - uns 36 reais), valeria a experiência, qualquer que fosse o resultado.
 E aí vai o segundo conceito: "Ichi go, ichi ê" (一期一会). Algo como "um tempo, um encontro" ou a "uma chance em uma vida". É uma expressão que veio da cerimônia do chá japonesa, atribuida ao mestre de chá Sen no Rikyuu, que foi o mestre de chá tanto de Oda Nobunaga, o xogum que iniciou a unificação do Japão no século XIV, quanto de Toyotomi Hideyoshi, seu sucessor, que efetivamente unificou o país.

Eu já tinha uma ideia prática do "Ichi go ichi ie" nos vinhos, quando ouvia o Vitor Lotufo, da gostosa Cantina Matterello , na Vila Madalena, falar nas excelentes degustações de terça à noite sobre a importância de uma companhia ou ocasião excepcional pra acompanhar um vinho excepcional. Nesse caso, era o contrário. Não era um vinho excepcional, a não ser pela origem exótica. Mas era uma oportunidade única.

Com esse espírito, levei já refrescada a garrafa do Naga Siam White Blend 2010 ao "restaurante" (uma casa de madeira e sapê de um pescador). Um corte de chenin blanc e colombard. Beleza. Um vinho branco ácido e fresco tem tudo pra combinar com frutos do mar recém-colhidos, e as especiarias fortes e picantes da culinária tailandesa. Sem falar no calor "carioca".
Além de um peixe e lula frescos com o tempero local, pedimos uma tradicional e picante salada de papaia. Talvez por estar além da temperatura própria de serviço, o Naga Siam White não estava nos seus melhores dias.
Se já é difícil e até pouco esperado achar qualquer kung fu num branco, esse aqui não tinha sequer uma ponta de muay thai. Na verdade, se fosse um tantinho mais fraco, poderia ser vendido como água mineral. Ficou tão constrangido no meio dos pratos rústicos, que nem considero um knock out no primeiro assalto. Foi W.O. mesmo! Felizmente pra ele, os dois conceitos citados anteriormente estavam tão frescos em minha cabeça que nem a ausência do vinho atrapalhou a degustação!

Era uma oportunidade única, com a companhia perfeita. Foi, assim, o melhor vinho ruim que já tomei na vida.

General

Viva a CADEG!!!


Volta e meia dou uma olhada nos outros blogs que fazem parte do Enoblogs e, ao ver os preços descritos pelos blogueiros de outros estados, chego a sentir pena dos enocolegas que pagam muitas vezes um valor acima do absurdo por suas garrafas. Sim, porque nós já pagamos normalmente preços absurdos! Mas isso envolve uma série de questões que certamente não serão discutidas aqui. 

Aos sábados o movimento é grande
Acontece que no sábado retrasado, fui com o Polaco à Cadeg. Pra comer um Bacalhau no "Barsa", o famoso restaurante com Chef em Benfica, e pra fazer umas comprinhas na nossa loja de vinhos favorita. A Arte dos Vinhos, do Mariano. A Cadeg tem ainda outras 2 ou 3 lojas especializadas em vinho. Mas gostamos dessa que fica no primeiro andar, devido ao bom atendimento e pelo fato de aceitarem pagamento com cartão de crédito. Se o pagamento for em dinheiro ou débito, ainda fazem um descontinho pequeno. E eles sempre têm um vinho (ou mais) para degustação dos clientes.
Alvarinho e bacalhau é covardia!
Demos uma passada lá e avisamos que iriamos voltar depois do almoço. Antes de sair, peguei um Alvarinho Deu La Deu, pra levarmos ao Barsa, no andar de cima. Assim, ele já ia pegando um gelo enquanto comprávamos as frutas que as patroas sempre pedem quando vamos à Cadeg. Aproveitei também pra comprar numa loja um bacalhau especial, por 36 reais o kilo, cuja peça dividi com o Samurai.
Ao meio-dia, você ainda consegue tranquilamente uma mesa no Barsa no sábado. Antes das 13h, o lugar já está lotado. E Isso porque agora eles têm um concorrente forte. O "costelão", que vamos conferir na próxima vez.
Pedimos o Bacalhau da casa, que vem frito, com alho por cima e acompanhado de batatas assadas, cebolinhas, azeitonas e ovos cozidos. Uma beleza! O Alvarinho, outra beleza! Ah, a rolha cobrada, tão discutida por aí, era de R$10,00. O bacalhau é muito bem servido pra duas pessoas e sai por R$90,00.
Ok. Agora é chegado o momento de causar inveja aos colegas de Blog citados lá no primeiro parágrafo. De volta à loja de vinhos, encontramos com o simpático Mariano, já atrás da caixa registradora. Nos aguardavam com um espumante, que já nem lembro qual era. Abaixo, alguns exemplos interessantes do que podemos encontrar na Cadeg:
 
Excelente C/B por esse preço
-Trio 2007, que nos mercados encontramos na faixa de 50 paus e que, na promoção da Lidador saia por 35,50, custa na Cadeg R$32,50;
-Marques de Casa Concha, também 2007. Merlot, Cabernet ou Carmenere. No Zona Sul, que até tem bons preços, custa R$78,90. Na Cadeg, custa R$62,50; 

O novo Marquês. Carmeneré
-o Alvarinho Deu la Deu, que tomamos lá no   Barsa, e que paguei R$48,00, custa R$56,00 no lugar mais barato que achei pesquisando na internet;
-O Septima Gran Reserva, o favorito do Polaco, que já vi gente pagar até 80 pratas, sai por R$46,80 na Cadeg. E vale lembrar que nos Estados Unidos esse vinho é vendido por U$25,00;
 -Quer um vinhão para celebrar? Que tal um Amarone Cesari, que já vi por mais de 200 paus por aí? Na Cadeg, você leva por R$117,00 no cartão de crédito;  
Na Mistral é mais caro. E não tem!
-Quer um brasileiro? Que tal o polêmico Salton Talento 2006? Quanto está custando por aí? Uns 70 paus? Na loja virtual da vinícola Salton você paga quanto? R$60,00? 
Bem, na Cadeg voce paga R$43,50;
-O clássico Catena Malbec, que custa em sua importadora, a Mistral, exatos R$50,90, está saindo por R$48,00 na Cadeg!!! Aliás, é possível encontrar vários vinhos da Mistral na lojinha. E quase todos eles são mais baratos por lá.
Fica aí portanto, a dica para os colegas que não conhecem ou que são de outras cidades e que costumam vir ao Rio. Se quiserem comprar vinhos, já sabem aonde podem encontrá-los por preços bacanas.

Um brinde à Cadeg!

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Clássicos argentinos: Os opostos nos atraem

Vejam só o embate que fizemos nesse início de ano na casa do Polaco. De um lado, um Montchenot de 13 anos de idade (10 deles de barrica!!!), com 12,5% de álcool, de estilo totalmente "velho mundo". Do outro lado, um DV Catena Malbec Nicasia 2003, Malbec puro sangue com 13,6% de álcool.

Grandes hermanos
 O Polaco tem uma história com o Montchenot. O vinho da Bodega Lopez foi o primeiro grande vinho degustado por este lendário confrade. E isto ocorreu lá nos idos de Mil-novecentos-e-guaraná-de rolha. A Bodega tem mais de 100 anos. Ano passado Polaco foi a Mendoza com o Doutor e fizeram uma visita. Puderam ver os tradicionalíssimos e gigantes barris de carvalho, de até 20 mil litros, que abrigam e amansam esse néctar especial da Bodega Lopes.
E esse aí, de 10 anos, é o mais humilde da linha Montchenot, que é um corte de Cabernet, Merlot e Malbec. Eles possuem ainda o de 15 anos, o de 20 anos e o Montchenot 100 anos! Calma... na verdade este último é da safra de 1975. Depois de 10 anos de barrica, ele foi para uma garrafa de 700 ml e, depois de 12 anos, foi em definitivo para as garrafas Magnum, onde são comercializados. O pessoal da Lopez acredita que na Magnum é onde esse vinho apresenta o seu melhor. Mais um ponto pras garrafonas, General!
  
O outro lado das moedas
Pois bem, abrimos a criança, ou melhor, o adolescente, e colocamos delicadamente no decanter. Deixamos respirar um pouquinho e fomos pras taças. A cor amarronzada e translúcida já entregava a idade e o estilo. Cheiroso, sem exageros, e na boca muito leve e gostoso. O tanino já era uma vaga lembrança. Volta e meia encontramos por aí a palavra  "elegância" quando lemos algo sobre alguns vinhos europeus. Em especial, os franceses. Essa palavra é a primeira que vem à cabeça quando provamos um Montchenot.

Mas ainda tínhamos o DV Catena Nicasia. Estilo totalmente diferente. Apesar de ser um vinho que também descansa um bom tempo em madeira (2 anos, 100% novas) e de já ter lá seus 8 anos de idade.
A borra era do Catena!
Ao derramá-lo no decanter, já dava pra ver pela cor fechadíssima que o bicho era explosivo. Em segundos o Aroma de frutas já invadia a área ao seu redor. Não esperamos muito tempo não. O suficiente para matarmos a última tacinha do Montchenot. Partimos instantâneamente para o "Novo Mundo". Praticamente um caldo. Negro. Delicioso. Muita fruta muito bem integrada à madeira. O álcool em nenhum momento pulou na frente. E por incrível que pareça, a permanência em boca era até sutil. Agradou bastante as damas presentes. Especialmente a Doutora.

O resultado do embate entre os hermanos? Bem, em respeito ao Polaco e suas lembranças longínquas, prefiro dizer que ambos, sendo lados opostos de uma mesma moeda, enriqueceram nossas almas.

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O que não nos mata, nos fortalece!

Havia uma certa abstinência no ar. Apesar do General e eu estarmos, nessa época (agosto/2010), bebendo bastante e sempre que possível. Nesse dia, o Polaco estaria sem sua patroa em casa e, forrado de bons vinhos, convidou-nos para uma farra enoetílica. Seria o momento também de encontrarmos com o Doutor e nosso grande amigo em comum, o Nietzsche, que estava pra se mudar pra China, terra atual do General. Assim os dois poderiam trocar umas idéias. Nietzsche iria pra Shangai, dar aulas de economia para os chineses, em Inglês. Causou inveja o fato de que assistiria ao vivo um torneio de Masters 1000. Fato inédito entre nós 3 (eu, Doutor e Nietzsche) que somos grandes fãs de Tênis e jogamos sempre juntos há anos. Será que verei Federer jogar antes desse mito se aposentar?
Muito bem, eu e General chegamos com um Vinosia Primitivo, e um Tikal Patriota 2007. O italiano era pra chegarmos com moral, e o argentino era pra arrebentar com tudo! Polaco, nosso lendário anfitrião, deu-nos um tapa com luva de pelica tirando de sua adega um Châteauneuf-du-Pape de 2007 só pra mostrar quem mandava. Começamos então com o nosso Primitivo, que adquiri através da Cellar. Belo vinho. Acompanhado de queijos, frios e pães, agradou bastante. Em seguida Polaco serviu-nos o francês, que tinha ido pro decanter enquanto tomavamos o primitivo. Estava bem redondo! aquela leveza dos Chateauneufs. Eu já havia tomado esse vinho em outra oportunidade e ele havia decepcionado. Já esse, da safra 2007 estava bala. Infelizmente não sei quem é o produtor. Mas a foto tá aí (se alguem souber...)
Chegou então o Doutor. Todo preocupado pois não podia ficar muito tempo. A patroa com filho de 7 meses em casa... Ok ok. Começe a beber e pensamos todos juntos numa boa desculpa pra dar.
Servimos então o Tikal Patriota, que mesmo decantado, mostrou aquele kung fu sulamericano, mas de qualidade. O vinho dividiu opiniões. Polaco não achou nada demais. General ainda estava encantado com o Chateuneuf. E eu, porradeiro novomundista que sou, nem liguei pro tantinho de álcool mais presente que o normal. Tivesse ele com a temperatura um pouco mais baixa, seria um nirvana. O Doutor gostou.
Chega então o nosso futuro amigo de Shangai. Bebeu pouco e pouco falou sobre os vinhos. Melhor assim, tinha muito pra conversar com General e muito pouco tempo para isso. Polaco abriu então um Rosso di Montalccino Castello Tricerchi que, prejudicado pela qualidade e presença dos antecessores, foi apenas correto e divertiu-nos.
Foi a última vez que estive com o Nietzsche. Acho que o Doutor também. Só nos resta esperar pela Lei do Eterno Retorno.

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Ano novo: Um hermano, um Porto e a chuva

No primeiro dia do ano, estava em Teresópolis. Eu, minha esposa e nossa pequena, fomos passar o ano na casa do meu sogro. De antemão, combinei com meu novo colega e amigo de trabalho, o Jujuba, de tomarmos um bino na tarde do dia primeiro.
Por volta das 17h, as meninas dormiram e fui com meu Tikal Amorio 2007, que ganhei da minha deusa no dia dos namorados, para a casa do Jujuba, num outro pedaço da cidade.
Chegando lá, colocamos na geladeira pra dar um grau (a menos) e fui conhecer a casa e a esposa do Jujuba, que estava esperando o primeiro filho do casal. A simpática futura mamãe já estava àquela altura com um barrigão respeitável.
Malbecão do filho do Homem!
Abrimos então o Hermano. Escuro e cheiroso. Kung Fu com perseguição de carros estava por vir. Chegou em nossas taças com o tanino dando voadora em nossas gargantas. Corpulento que era, enchia a boca. O álcool sobrava um tanto.
Esse Malbec é feito pelo filho do grande Nicolás Catena, o Ernesto, que tem uma boa linha em mãos. Assim como sua irmã, a Laura, que elabora os ótimos Luca. O nosso foi melhorando conforme respirava em nossas taças. Harmonizamos com uns salgadinhos bacanas. Jujuba fez questão ainda que eu provasse seu puré de maça com cebola. O cara tem talento pra coisa. É concorrência pro Samurai.
Mas o melhor mesmo estava por vir. A grande surpresa. Terminada a garrafa do Tikal, Jujuba se levanta e diz: "você agora vai provar um Porto de 30 anos que eu trouxe de Portugal, quando visitamos a família da Patroa".

Opa! Bônus! Supercombo! O camarada tira da geladeira uma garrafa Pet de algo que corresponde à Fanta Laranja dos portugueses: "É que esse Porto não é vendido normalmente. Eles tiram direto da Barrica. Trouxemos 5 pets dessas!"
Infelizmente eu não fotografei. Mas não é difícil imaginar a situação. E o que é mais incrível é que o Porto da família é realmente um tirambasso! A cor mais clara, com muitos reflexos. Delicioso. Uma jóia guardada numa garrafa Pet. Dei uma boa baixa na reserva da família esse dia.

Parecia um bom começo de ano. Até então só havia motivos pra celebrações. 2011 chegando, Jujuba esperando seu primeiro filho (que nasceu nessa segunda agora! Dia 07/02), metas cumpridas, início de Folga e etc.
Naquele final de semana, porém, tivemos chuva todos os dias. Era o prenúncio de uma tragédia que viria alguns dias depois. No pedaço onde fica a casa do Jujuba por sorte nada ocorreu. Já na área do meu sogro houve destruição e vidas perdidas. Graças a ajuda dos vizinhos, ele se salvou.

Infelizmente a boa lembrança desse dia estará sempre vinculada e maculada pela desgraça que ocorreu em Teresópolis e parte da região serrana.

BK72

Uma magnum italiana na China

Recebi em minha humilde residência o Sr Gitzelmann, vindo da Suíça para passar aqui o Festival da Primavera, o ano novo chinês. Esse jovem e amável senhor já seria normalmente bem-vindo, mas esse ano, ele trouxe novamente mais um motivo para continuar sendo querido: uma garrafa do Canneto Riserva 2005. E uma garrafa magnum, daquelas com ponta oca e carga dupla. Pesada, escura, do jeito que o Polaco gosta! (mais sobre garrafa magnum nesse interessante link ).

Aí segue uma curiosidade pra ampliar os sabores dessa história: a vinícola é de propriedade de sua família!

residência de verão da família na Toscana

 Logo no rótulo, lê-se "Vino nobile di Montepulciano"! Pra um camarada forçado a beber vinhos "compre 1, leve 2" dos mercados chineses, qualquer lembrança da Toscana é uma mesa posta pro jantar, encontrada por um náufrago. E nem adianta falar de custo/benefício, porque sei que não existem distribuidores dessa beleza no Brasil - muito infelizmente.

a grandeza da magnum
Fui ao website (http://www.canneto.com) e conferi as informações: 90% Prugnolo Gentile (Sangiovese grosso), e mais 10% de Canaiolo nero, mammolo, cabernet sauvignon e merlot - um corte feito com uvas totalmente cultivadas ali mesmo, na bonita Montepulciano.

Além dos 30 meses em barris de carvalho francês (e mais 6 na garrafa), o Vino di Montepulciano tem uma história de elogios bem mais longa, que começou no ano 790. Em 1549, São Lancério, mestre da adega do Papa Paulo III, se referiu ao vino nobile como "Vino perfettissimo da Signori". Eu não entendo patavinas de italiano, mas imagino que elogios vindos de um santo sejam mais impressionantes que um 100 na caneta Parker! E lendo sobre a história do São Lancério, dá pra ver que ele entendia! Bebia muito, escrevia, e começou a usar termos como "redondo", macio", "maduro", "forte", que são hoje usados pelos sommeliers mundo afora. É considerado um dos grandes especialistas da história da enologia.

Como sempre, abrimos a garrafa e deixamos o danado respirar. A cor é densa e o aroma ainda mais. Aquele aroma de ação e aventura que os bons vinhos tem. Intenso, persistente e complexo. Não vou falar de "couro" ou "madeira". Deixo isso pro santo. O aroma desse vinho me deu a sensação de abrir o capô de um V12 e ouvir o motor roncando. Possante e forte, mas com aquela ideia de que o melhor ainda está por vir. E estava.

Harmonização antecipada?
A ocasião não podia ser melhor. E não há ocasião que uma garrafa duplo impacto dessas não melhore. Os 14% sob o capô garantem o que estou falando. E passam despercebidos, no meio de tanto sabor. Os taninos não são brincadeira. Pura corrida de bigas. E é sem nenhuma dúvida um vinho de guarda, que pode ficar anos na adega esperando a hora de sair. Acho mesmo que uma beleza dessas pode ficar muitos anos na adega, ensinando paciência ao dono. Naturalmente, acompanha bem carnes molhudas, e outros pratos sem frescura.E na pequena e pura Montepulciano, elas vão até as vinhas!

No fim da noite, o Sr Gitzelmann mostrou seus dotes fazendo uma bebida pirotécnica com o brandy chinês Changyu (que ele garante ser o melhor do mundo) e café.

Espero que ele tenha motivos para voltar aqui ano que vem. Eu tenho motivos de sobra para recebê-lo!


General

Invadindo o Chile - Final: o Boragó

Quando disse ao Samurai que iríamos pra Santiago, ele foi enfático: "Reservem uma noite para jantar no Boragó. É um dos melhores restaurantes que já fui na minha vida!"
Isso vindo do Samurai, que é o cara mais exigente que conheço em matéria de gastronomia, me pareceu uma ordem. E ordem do Samurai, eu costumo cumprir há 10 anos.
E quando eu disse para o Polaco e pro Doutor que iríamos jantar num restaurante "molecular", eles torceram a cara. Mas enfim, fomos os 3 para o novo endereço do Boragó, que havia se mudado há pouco. Nossa mesa era bem em frente à cozinha (outra recomendação do Samurai), na primeira fileira. Encaramos o menu endemico. 10 pratos, sendo 3 sobremesas. Pedimos um Leyda Pinot Noir Single Vineyard 2009 para acompanhar-nos nessa jornada.
 Pra começar, o enfeite da mesa era comestível. Ok, essa é batida. Um Bonzai enfeitado com umas flores, que não tinham lá muito sabor. Não surpreendeu ninguém e só fez deixar o Polaco mais desconfiado.
Veio a entradinha. Um mini vaso de plantas, com uma plantinha verde. A terra era a pastinha para passar no pão. E era muito boa!
E veio outra. Uns aspargos enfiados numa terra que por cima era preta, e por dentro, verde. Muito saborosa. Polaco comeu seu aspargo e deu umas bicadas na terra. Ainda não acreditando que estava ali comendo aquilo.
Mais uma entrada. Uns champignons enfiados numa massa de algum tubérculo, que imitava uma pedra. Bonito. A massa meio sem gosto, mas os cogumelos estavam campeões (infâme, eu sei). Doutor já começava a achar que não se tratava de uma pegadinha do Samurai. Polaco ainda resmungava. Eu já curtia tudo!

O jogo virou mesmo quando vieram os ótimos pratos principais. Um peixe, que por fora parecia carbonizado (e era!) estava matador. E o que conquistou de vez o público foi uma carne que havia sido cozida por 40 horas e que tinha uma areiazinha verde por cima, meio adocicada. Um tiro! A partir daí eram só sorrisos e elogios ao Boragó.
 As sobremesas também foram um show. Além de saborosas, tinham sempre um apelo visual interessante. O sorvete de framboesa, com pedras sabor framboesa, me fez lembrar da patroa. Ela iria lamber o prato. As pedras eram, na verdade, suspiros sabor framboesa. Mas a melhor sobremesa era uma bolotinha de chocolate que vinha servida num pratão enorme. Era congelada por fora e desmanchante por dentro. Como se fosse um Petit Gateau ultra sofisticado. 
Voltamos para o hotel mais que satisfeitos. Polaco e Doutor, que antes desdenhavam, não tiraram mais o Boragó de suas cabeças até o fim da viagem.

Ah! A conta, claro... Deu R$85,00 por pessoa. Fico imaginando quanto custaria uma farra dessas por aqui. Melhor não pensar nisso e continuar com a boa lembrança desta noite.

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Invadindo o Chile - Parte 4: Viña Aquitania


A visita à vinicola Aquitania foi meio no susto. Como tinhamos tempo entre uma e outra, resolvemos entrar nesta que estava no meio do nosso caminho. Nada sabíamos sobre ela. Entramos na bela propriedade, bem pequena, que tinha uma vista incrível composta por suas plantações e pela Cordilheira.  Perguntamos pra moça da recepção se poderíamos fazer uma visita guiada. Poderíamos, se tivessémos avisado, claro. Ela ainda informou que, se quiséssemos esperar uns 30 minutos, ela prepararia tudo e faríamos a visita. Mas o Doutor teve uma idéia melhor e perguntou se poderíamos comprar e beber ali mesmo uma garrafa de um dos vinhos da linha da vinícola, que estavam expostos na sala da recepção. "Si, por supuesto". O Doutor queria pegar o Sol de sol Pinot Noir, pois era o único que ele tinha ouvido falar a respeito. Mas eu sugeri que pegássemos o Lazuli ,top da casa, que nem era tão caro (20mil pesos/ U$40,00) e que era safrado de 2003. Ora, um Cabernet de 7 anos, na vinícola, tinha que estar bala. Perguntamos então pra recepcionista o que ela achava e o que nos sugeria. Ela informou que o Lazuli era um cabernet diferente do que rola pelo Chile. Mais delicado e leve. Bem, foi o suficiente pra aguçar nossa curiosidade.
o Lazuli é o Top da vinícola. Mas não é o mais caro (?)
O vinho era exatamente o que ela descreveu e seguia descrevendo conforme bebíamos. Um cabernet no ponto, redondinho, bem leve e que desce com uma facilidade incrível. Em menos de meia hora, a garrafa estava quase seca. Deixamos 3 dedos pro nosso taxista, que o guardou para a janta. No dia seguinte nos arrependemos. Ele contou que adorou o vinho... Misturado com refrigerante!

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Invadindo o Chile - Parte 3: A Santa Rita

Estávamos com um almoço marcado na Santa Rita, muitíssimo recomendado. Chegamos pontualmente às 14h na bela propriedade da vinícola, que é uma das gigantes do Chile. 
Um cabernet da safra que nunca acaba no Chile.
Já no restaurante, escolhemos logo um dos balas da casa. O Santa Rita Floresta Apalta 2005 (27 mil pesos no restaurante), que foi devidamente decantado. Nós 3 escolhemos carne, claro, pra que o vinho fosse bem escoltado. E foi mesmo. A primeira taça, que não chegou a respirar muito, veio bem fechada e com o tanino rasgando a garganta. Antes do meu bifão de chorizo chegar, ela só não incomodou porque eu já estava com um princípio de enoabstinência. Mas dava pra sentir o potencial do vinho. Ao longo da refeição, ele foi se transformando naquilo tudo que esperávamos dele. Um tremendo vinho. Suculento, macio, persistente. Foi uma das melhores refeições que fizemos no Chile, muito por conta do Floresta Apalta 2005.

Depois do belo almoço, demos uma passada no Wine Bar da vinícola. Havia uma Winematic com os tops da Santa Rita e suas agredadas. Pedimos uma taça do Santa Rita Casa Real 2005. Excelente! O que poderia ser melhor que aquilo? Fomos então pro Carmem Gold Reserve, que é o top da Carmen. Logo, tinhamos que prová-lo. Constatamos sua qualidade. Balasso!
Un poquito más, mi capitan!
Antes de partirmos, não resisti e perguntei ao nosso barman se ele nao tinha ali um carménère bacana pra provarmos. "Sim, claro. O Pehuen é o melhor carménère do Chile". Ok, manda uma taça, espertão. 
Todas as taças a gente dividia em duas, com uma faca. Técnica desenvolvida pelo Doutor
E o Pehuen 2005, meu chapa, era um veludo violeta!


Que tarde tivemos na Santa Rita. Quase uma overdose hedonista.
                      
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Invadindo o Chile - Parte 2: Concha Y Toro Wine Bar


O tour básico da Concha Y toro é uma das maiores atrações turísticas  de Santiago. Coisa pra turista comum mesmo. Por isso muita gente gosta de dizer que a CyT é a disneylandia dos vinhos em Santiago. A verdade é que a CyT possui ótimos vinhos e um excelente Wine Bar onde podemos pedir seus grandes vinhos em taças. O que nos permite provar bastante coisa.
Dispensamos o tour, fomos pro bar, que também é um restaurante, e sentamos numa mesa  descolada próxima ao balcão. Na carta havia o Dom Melchor da safra 2006 e o da safra de 1990! Que ótimo. Um vinho de 20 anos. Seria minha primeira experiência com um vinho dessa idade. E um clássico sulamericano, pois só vinhos do quilate de um Dom Melchor podem ser tão longevos.
O Doutor pegou uma mini-degustação composta de meia taça do Amalia Chadornay, meia do DM 2006 e meia do DM1990. Eu e o Polaco pegamos uma taça cheia do Terrunyo Carmenere 2007 e uma do DM 1990 pra dividirmos. O garçom já nos trouxe duas meias taças de cada.
Com minhas duas taças à minha frente, comecei comparando os aromas. O Terrunyo empolgava. Só pelo nariz já dava pra sacar que ali dentro havia Kung Fu, mas da melhor qualidade. De mestre Shaolin. Mas aí peguei o DM90 e trouxe pra bem perto do meu rosto... E o cara era barra-pesada. Muito excêntrico. A primeira impressão era a de que parecia um vinho do porto. Doce. Forte. Mas com alguma delicadeza proveniente de um floralzinho combinado. Nenhum vinho que eu ja tivesse provado chegou perto disso. Uma beleza. Provei entao o danado e essa sensaçao de delicadeza ficou evidente. Era muito leve. Não havia tanino. É engraçado, mas era como se pudessemos realmente perceber a idade do vinho. O Doutor achou inclusive que ele ja estava na descendente. Pode ser. Talvez na boca seu auge tenha passado um pouquinho, mas ainda dava um show pra mim.
O Terrunyo é um carménère bala do Chile. Esse 2007 então, deitou e rolou nas canetas dos especialistas. Um carménère encorpado e macio é mais do que o necessário pra deixar qualquer um feliz. E o que é melhor: tá pronto hoje. É um vinho que vale a pena trazer de fora porque aqui quando se acha uma garrafa , ela chega a custar o triplo.
Provamos também o Marques de Casa Concha Merlot 2007, que é um bom vinho. Claro, depois desses dois petardos fica a impressão que é apenas um bom vinho. É inferior ao 2005 que tomei, que era um tiro, e que foi bebido com 4 anos. Esse tá um pouco tânico, se eu tivesse uma garrafa eu guardaria um aninho pelo menos. Mesmo assim é gostoso e é um vinho que podemos comprar no Brasil sem chorar muito, pois custa uns 20 dolares no Chile e pode ser encontrado por menos de 65 reais por aqui.
o Dom Melchor 2006 eu já havia tomado no meu último aniversário, logo antes dessa viagem. A impressão que tive foi a mesma da última vez. Belo vinho, mas que tem que ir pro calabouço. Não por 20 anos, claro. Mas esses caras mais bacanudos infelizmente não estão "prontos" no início de carreira. 

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