A sombra das garrafas imortais


Noite dessas o agora "difícil" Samurai resolve dar sinal de vida e organiza uma arruaça em seus aposentos. O timming foi perfeito, pois o Jujuba acabara de voltar de Portugal, mais precisamente da região do Douro, onde ficou por um mês (!). Claro que não voltou de malas vazias. Eu, Jujuba e Bin Laden já estávamos armando praquela noite mesmo o esvaziamento de uma das garrafas especiais que veio nessa leva. Partimos então pro dojo do Samurai.

Nosso amigo General infelizmente não pôde estar conosco nessa noite porque "estava bebendo vinhos com os amigos na Cadeg". Ora, vejam só... Se a gente não o convidasse para beber conosco, jamais saberíamos que ele foi beber com os amigos. E na Cadeg! Enfim, sua patroa estava conosco abrilhantando a noite, junto com a filha do Samurai
Chegamos eu, Bin e Jujuba com os trabalhos já iniciados. Colocamos a nossa estrela da noite num decanter e  abrimos um branco que também veio na bagagem do Jujuba. Teixeiró branco 2011,  que  impressiona pela acidez perfeita. É justa toda vida e não desanda. Vinho de grande frescor. Vamos começar a sessão tortura? por essa garrafa, Jujuba pagou 3 euros. Custa 48,75 Dilmas na Mistral. Argh!
Samurai vai à sua adeguinha e saca um espanhol, Santa Cruz de Altazu 2005, 100% Garnacha. Com o Decanter ocupado, teve que respirar nas taças, coitado. E claro que precisava. Madeira tostada. Corpulento, porém macio e com taninos amigos. Melhorou a cada respiro.
Fomos então para nosso portuga do alentejo. Enquanto o Jujuba estava em Portugal, volta e meia conversavamos no skype e ele reportava o que estava garimpando por lá nos mercados. Ele achou esse  Quinta do Quetzal Reserva 2008, Alentejano, todo medalhado, por 19 euros. Fui na winemag e vi que a safra 2007 na América custa 38 Obamas. Levou 94 pontos. Ok, esse era nosso.
E o nosso estava realmente espetacular! Chocolate no nariz com intensidade e clareza nunca vistas. Taninos finíssimos e muito amáveis. Redondasso. Valeu cada centavo de euro. Valeu a viagem. Uma jóia do Alentejo lapidada por dois enólogos: José Portela e Rui Reguinga. Infelizmente esse não chega aqui nem com imposto e lucro Brasil. Bem, talvez seja melhor assim...
Samurai resolve então jogar. Mantendo o nível lá em cima, saca de sua adega um "bola vermelha". Explico: Sua filha tinha a mania de, na ausência do pai, esvaziar algumas de suas garrafas. Até aí, tudo bem, desde que ela ficasse longe daquelas que tivessem um adesivo de bolinha vermelha colocado pelo Samurai para designar as garrafas especiais.
E esse Oldfjell 2005 já estava na mira dela desde quando ambos visitaram a vinícola em 2010. Foi pras taças após rápida passagem pelo decanter. O rótulo já estava "pedindo pra sair". 15 graus. Volumoso. Intenso. Muito bom. Kung Fu lá em cima e sem miséria em nada. Mato, couro, floral, especiarias, fruta madura, cadeirada nas costas... Tá tudo lá. Bem animado. Esse aí não chega por aqui. E só é feito em alguns anos, quando há condições adequadas, segundo informação do contra-rótulo.
Ainda houve espaço para mais um tinto. Esse D.v. Catena Cabernet-Cabernet 2006, que é um belo vinho, naquele contexto tornou-se um vinho mediano. Sumiu perante a grandeza dos outros. Incrível! O nível estava muito alto pra ele.
E conseguiu subir ainda mais quando o Samurai resolveu fechar a noite com um IceWine canadense. O Lost Bars Vidal Icewine 2008,  que eu trouxe pra ele há mais de um ano, quando da nossa invasão ao Canadá. Uma bela surpresa saber que ele guardara essa garrafinha pra uma ocasião como essa.
E o Ice wine foi mesmo a chave de ouro cravejada com diamantes que todos esperavam. Que delícia... Uma gama de frutas. Pêra, pêssego, damasco, laranja e outros tons cítricos vinham com um frescor arrebatador! E tudo em miseros 8,5 graus. Que mágica é essa que é feita num IceWine? Um espetáculo! Impressionou a todos os presentes.

Fomos embora com a sensaçao do dever cumprido. Só espero que o General também tenha tido uma grande noite bebendo com seus amigos. Quem sabe a noite dele também seja digna de um post?



                  B

                  K

                  7
                    2

Os senhores das armas: Clos Apalta 2008



Numa quinta-feira dessas de 2012, eu e o General fomos convocados para uma missão importantíssima na casa do Polaco. Doutor chegara há pouco da Amerikolândia e trouxe  um Clos Apalta 2008. Vinho que ficou famoso justamente em 2008, por ter tido seu exemplar da safra de 2005 eleito como o vinho do ano pela revista Wine Speculators
Deveríamos então, nós quatro, desarmar esse artefato e colocá-lo inteiramente sob o domínio de nossas taças.
A minha já consagrada pasta de truta defumada era o acompanhamento principal, cercado por queijos e frios.
O Clos Apalta foi pras taças já no ponto, após passar pelo decanter por um período mínimo de uma horinha. Uma beleza! Encorpado como esperávamos, cheio de fruta na boca e no nariz. E o que é melhor, redondinho. Taninos Marcados, mas agradáveis.
Um clássico moderno sulamericano que valeu a pena ter sido trazido. Dos chilenos que andaram visitando nossas taças, o Clos Apalta só tá perdendo pro Sena. E olha que só tem vindo bazuka pra cá!

Até o final do ano é possível que que chegue mais armamento pesado pro nosso QG. Vamos torcer.

B                  7                          
     K  
                                                  2

Voltando... e com um Pêra-Manca 2007


A fase anda boa! Doutor aparece no QG com uma garrafa que ganhou de sua chefe, que voltara há pouco de Portugal. Parece piada, não é?


"Infanticídio" foi uma palavra que por um minuto ousou passar pela minha cabeça. "oportunidade" veio com mais força e mandou o petardo português para o decanter do Polaco. Não ficou mais do que 40 minutos e foi pras taças. Um tanto amarrado, ia se soltando na marra que o impunhamos. Mas foi ótimo, pois íamos percebendo sua evolução e consequente metamorfose. O nariz, muito complexo. Destaque para um fumo, meio queimado, bem classudo, que de certa forma se repetia levemente em boca. O que lhe conferia uma personalidade muito marcante e única. Pelo menos para mim. Os taninos ainda estão saindo no tapa. Mas isso era esperado e, definitivamente, não incomodam. Um vinho que pode ser bebido agora e que obviamente iria melhorar com a masmorra daqui a duzentos anos e tal...
Antes do portuga acabar, vimos que seria necessário uma outra garrafa, pois éramos 5 ( Doutora e a patroa do Polaco completavam a degusta). Mandamos prum outro decanter um Terrunyo cabernet 2007, que já imáginávamos ser tiro certo.
É uma beleza essa linha da CyT. Já Provamos Terrunyos aqui, aqui e aqui. Nunca comprados aqui, no Brasil, por razões óbvias. Foi um ótimo contraponto ao Pêra-Manca 2007. Nessas horas que realmente percebemos as diferenças entre o velho mundo clássico e o novo mundo, também clássico, por que não? 

Quem ganha num embate desses são aqueles que estão por perto, com uma taça na mão.

B              K            7            2