três garrafas do Chile asiático

Depois da experiência na Tailândia, assim que cheguei à China fui inspecionar o free shop, à procura de boas garrafas. A limitação de escolha é grande: boa parte é de vinhos franceses cujos nomes parecem fazer incluir 20% ao preço. E na China, um risco a mais: os vinhos franceses são os preferidos dos falsários.
Achei também o mesmo sortimento de vinhos chineses de exuberantes embalagens, que já havia encontrado em alguns supermercados.
Com esses parâmetros, fiz o que tantos brasileiros fazem: procurei o Chile. E na Ásia, o Chile vinícola é a Austrália (sim, eu sei que a Austrália fica na Oceania): o novo mundo onde são produzidos vinhos competentes a preços competitivos. Eu ainda prefiro o Chile original, mas por aqui, mesmo se isentos dos - serei eufemista - absurdamente abusivos impostos brasileiros sobre os vinhos, ainda resta o frete.
Em outra oportunidade, lembro que já cheguei a beber o Marques de Casa y Concha pela metade do preço brasileiro simplesmente porque estava na África, e não em Pindorama. Mas não vamos entrar nesse assunto pra não avinagrar a conversa.
Chamou-me a atenção um espumante Jacob's Creek Chardonnay Pinot Noir, que pela bagatela de 87 yuans (nem 22 reais) gerava suspeitas. Ainda mais por vir numa caixa com 2 flutes (o nome fresco pra taça de espumante).
O sabor e a acidez estavam justos - pro valor pago - mas as bolhas deixaram a desejar. E, de acordo com a publicação científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), existe 30 vezes mais sabor nas bolhas do que no resto da bebida.
 
Gérard Liger-Belair, professor da Universidade de Reims, na França, diz que, se as bolhas forem menores e em maior quantidade, haverá mais delas pra liberar sabor e aroma. E as primeiras bolhas desse espumante eram grandes, grosseiras e encerravam o expediente muito cedo.
Afinal, pra que serve um espumante que não espuma?


A garrafa seguinte da Jacob's Creek foi um Reserve Shiraz Vintage 2007 - produto da região de Barossa. Esse sim estava muito bom. As safras anteriores ganharam vários prêmios, incluindo ouro no Concours Mondiale de Bruxelles, Selections Mondiales de Vins Canada, e no Tasters Guild & International Eastern Wine USA. O próprio 2007 também levou suas medalhas. Mas sei que medalha em vinho é tão confiável quanto campeonato de telecatch.
Na Austrália custa 15 doletas "ostralhanas" - umas 25 dilmas. Comprei por volta de 32.
Nem preciso dizer que os preços que achei no Brasil, pela internet, eram muito maiores, com um ágio distribuído entre frete, impostos e ganância.
No nariz, começou meio tímido, mas soltou um pouco depois. O sabor cumpre o que o rótulo promete: frutas vermelhas escuras e ameixas. É um vinho de bom corpo e cheio da energia que falta aos vinhos asiáticos, de uma forma geral.
Foi desarmonizado com COXINHAS DE GALINHA, pra revolta dos experts que por ventura possam ler o blog. Estava uma delícia! É logico que atravessa um pouco, mas coxinha na Ásia é gol de goleiro. E como a pressa de ser feliz é grande, desceu fácil.


Por fim, o Jacob's Creek Reserve Cabernet Sauvignon Vintage 2009 da região de Coonawarra. Esse, pelo mesmo preço do anterior, estava um tanto mais ácido e amargo que o Shiraz, lembrando azeitonas, menta e rúcula (tá, a parte da rúcula é brincadeira). Não é um mau vinho - eu escolheria ele toda vez contra qualquer vinho chinês que já bebi - mas perto do Shiraz, que estava mais equilibrado entre taninos, amargor e acidez, decepciona.
Segue o site da Jacob's Creek (http://www.jacobscreek.com.br/home). 


Resta dizer que cada garrafa foi num dia diferente.
E se algum leitor achar um desses danadinhos numa loja brazuca, pode comentar o preço, porque fiquei curioso. 
Algo me diz que vou voltar à Austrália mais vezes, nem que seja só com a taça.


General

5 comentários:

Anônimo disse...

General,

Gostei de seu blog. Essa matéria dos vinhos vendidos na China achei sensacional. A vantagem dos blogueiros é essa: diversidade e informações que não temos na mídica escrita.
Vou incluir nos meus favoritos.

abraço

Jeriel

BK72 disse...

Concordo integralmente com o Jeriel, caro General.
Teus posts, além de brilhantes, trazem uma carga de infos que nós daqui do ocidente dificilmente teríamos acesso não fosse esse blog.
Queremos mais posts com suas aventuras enogastronômicas.

Abracios saudosos.

doutor disse...

Acho engraçado que eles metem logo um VINTAGE nos rótulos pra dar aquela chamada. Espumante com bolhas grossas? Acho que batizaram um vinho Jacobs Creek Chardonnay com água com gás hein General? Abraço.

General disse...

Valeu, Jeriel! Vou tentar fazer um post direto da prateleira dum supermercado chinês da periferia. Ideia do BK72, que achei formidável. Aí dá pra ver o tamanho do problema!

BK72, tenho certeza que suas aventuras por aí são muito mais ricas e frequentes que a minha. Sangue de boi por aqui é Premier Grand Cru...

Doutor, bolhas grossas como refrigerante! Vai saber! Aqui, eu não confio nem em água, quanto mais em espumante!

BK72 disse...

General,

O SHiraz reserva vintage 2001 sai aqui na faixa de 85 reais nas lojas.

No free shop daqui sai por 26 dolares. Mas não sei se é o vintage. No site não diz.

Mas é só pra vc ter uma idéia.

Abs