Invadindo o Chile - Parte 1: A Alma viva

A visita à Almaviva foi a primeira coisa que fizemos em Santiago após desembarcar e fazer o check-in no Hotel. Um dia antes liguei do skype pra vinícola e fiz a reserva para nosotros. 15 mil pesos chilenos (uns 30 dolares), que davam direito somente a uma taça da safra 2007 do Almaviva.
A sala de degustação da Almaviva
A vinícola é uma beleza. Pequena, moderna e classuda. A silhueta da fachada acompanha as curvas da cordilheira à sua frente.  Fomos recebidos por uma loira bonita e simpática que nos guiou pelas instalações e explicou tudo sobre a vinícola e seus vinhos. O Almaviva e o Epu. Ao final, fizemos nossa degustação numa salinha bacana onde nossas taças já nos esperavam. Tudo exclusivo. Éramos apenas eu, Polaco, Doutor e a nossa guia.

Almaviva Vs Epu
O Almaviva é considerado o vinho bambambam do Chile. Surgiu de uma parceria entre a Concha y Toro e os franceses do Rothschild, que criaram a vinícola Almaviva numa das regiões de melhor terroir do vale central, pra onde levaram as melhores plantas que faziam o Dom Melchor. O Epu é o segundo vinho dessa vinícola e sua primeira safra veio no ano 2000, quatro anos depois da primeirona do Almaviva. Uma parte das parreiras da vinícola começou a sofrer uma forte influência de uma plantação de eucalipto que ficava próxima. O que faria com que o Almaviva ficasse muito diferente de sua caracteristica original. Pois bem, essas uvas fizeram então um novo vinho, que foi arredondado com um tanto do Almaviva e que tem menos tempo de madeira (um ano).
Acabou sendo o vinho que veio suprir o mercado interno chileno. Como o Almaviva tem quase 90% de sua produção exportada, o Epu só é vendido no Chile, e bem mais em conta que o Almaviva. Em outubro de 2010, o Epu custava, na vinícola,19 mil pesos (R$70,00). Enquanto que o Almaviva custava em torno de R$ 280,00.
O Epu também é para poucos. Mas num outro sentido.
Muita gente que provou os dois vinhos surpreendentemente prefere o Epu. E eu sou um deles. Mas quais seriam as razões?
Pra começar, está claro que o Epu não é exatamente um segundo vinho da casa no sentido pejorativo do termo. Ele é quase um paralelo. Mas distinto. Além disso, o Almaviva por ser a potência que é, se for bebido recém-nascido, pode perder pro Epu na taça de um não-especialista (e eu sou um deles!).  Muitos vão achar que o Almaviva  é pesadão, tânico, fechado, etc . Enquanto  que o Epu já chega com esse mentolado charmoso, se mostrando mais delicado e redondo que seu irmão mais velho. Mas é claro que, se vc pegar um Almaviva com mais de 10 anos de adega, a história vai ser diferente. O Almaviva tem potencial de guarda estimado em 30 anos.
Como não tenho vocação pra carcereiro, e nem grana pro Almaviva, fico com o Epu.

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P.S.: No final do ano passado, o EPU passou a ser comercializado fora do Chile. A Brasileira Wine fechou um acordo com a vinícola e trouxe uma quantidade limitada do EPU 2007, que não era mais vendido em Santiago, por R$190,00. Em Santiago, só achamos o 2008.

Celebrando


Mais uma noite de Gala! Se viram a foto do post, já sabem que o negócio foi sério. Era uma noite para celebrar meu aniversário. Na casa do Polaco, ao redor de uma mesinha quase mística munida de queijos e frios, estávamos Eu, Polaco, Doutor, General e Samurai.

O americano La Crema Pinot Noir foi uma dica certeira do Kadum, nosso correspondente na Amerika. Eu, Polaco e Doutor já haviamos provado esse vinho em ocasiões diferentes e concordado que a dica tinha sido boa. Começamos com ele, o mais leve. Nao estava redondasso não. Mas tava bom. Cor ralinha de Pinot, e com uma acidez que quase incomodava. Nariz humilde, mas não zerado. Será que estava novo o 2006? Nós nao decantamos. Só passava pelo aerador corta-gotas do Polaco que, cá entre nós, é um bom corta-gotas.

Partimos pro Dom Melchor 2006, que foi decantado, já que não havia nenhum maluco por ali. Nariz bacana, nao era espalhafatoso, mas tava lá bem vivo. Frutas, um queimadinho e um docinho longe. Na boca, tava cheio de vida. Novo, claro. Esse vinho segura 20 anos. Mas era bem gostoso. Morreu rapidamente nas taças. Por 85 dolares (freeshop do Panamá), conhecer um ícone como o Dom Melchor tá bem ok. Ainda mais na companhia dos queridos confrades.

E veio o Brunello. Mais uma tentativa do Samurai que, assim como eu, também só deu tiros n´água com os Brunellos. Certa vez bebemos um que ele estava guardando há 10 anos e que foi aquela decepção. Pois bem, nosso italiano foi aberto uma hora antes e foi pro decanter por nao mais do que 20 minutos, o tempo da ultima taça do Dom Melchor. E posso dizer que essa foi a melhor das 5 experiências que tive com Brunellos. Longe de ser arrebatadora. E devo levar em conta que ele veio depois de um Mega Top chileno. Fiquei com uma ponta de esperança. Mas por incrível que pareça, tive a sensação que o vinho (de 2002) também estava novo.

Talvez eu que estivesse ficando mais velho.


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Vinhos:
La Crema 2006 Pinot Noir
Dom Melchor 2006
Brunello di Montalcino Villa dei Lecci 2002

Vem aí um especial: Invadindo o Chile

Ano passado estivemos no Chile para "passear" (anh-raanm) por 4 dias.

E tudo o que conseguirmos lembrar de interessante, será postado.

Em breve

Aguardem

Os Doutores da Alegria

O sujeito bebedor quando vai ao médico geralmente não é por uma boa razão. Inevitavelmente, acaba ouvindo do homem de jaleco conselhos e recomendações pouco agradáveis e totalmente incompatíveis com seu modus operandi.
A vingança vem de modo muito natural. Como num campeonato de turno e returno, ou mata-mata, nos deparamos volta e meia em algum evento social com um médico, à paisana, e mui sonsamente falamos algo assim:
 -"Ah, você é médico?  Sabe que eu ando sentindo uma dor aqui desse lado..."
Não importa a especialidade do seu novo amigo e muito menos a resposta que ele vai te dar. Pode estar certo que ele vai ficar muito pau da vida nesse momento. E isso é o que importa!
Mas o vinho trouxe a paz! Essa bebida milagrosa fez com que a medicina revisse seus conceitos, certamente a contragosto, e lavasse nossas almas. "Mas é só uma tacinha, ok?". Claro, claro.
O fato é que estávamos em menor número, eu e o Polaco, na noite do dia 20/12/2010. Por sorte, não estávamos em um consultório. O jogo era em nosso campo e os adversários jogavam em nosso time. Os doutores da Alegria.
Medicina alternativa
Doutor e seus dois amigos médicos, chegam acompanhados de um Dante Robino Bonarda, um Barolo Batasiolo e um Robert Mondavi Zinfandel. Polaco saca seu coringa Septima Gran Reserva, já da safra 2008, e eu chego por último com um Sideral de 2005, pra que não houvesse dúvidas quanto a minha especialidade.
O Dante é um dos melhores C/Bs da Grand Cru. O Polaco não gosta de Bonarda e por isso ficou quieto enquanto bebia. O Sideral, decantado que foi, estava macio e redondo. Todo equilibrado. No nariz nao foi tão explosivo quanto imaginei. O Barolo da Batasiolo volta e meia aparece na casa, mas ainda empolga o Polaco. Sujeito obcecado pelo Septima Gran Reserva. Até entendo sua obsessão. Esse 2008 parece tão bom quanto os vários 2007 que tomamos ano passado.
A boa surpresa da noite foi esse americano. Uma unanimidade no grupo. Muita fruta deliciosa e nariz intenso. Estava tão redondo o Zinfandel do Mondavi que dias depois encomendei um pra mim pela internet. Uma pena que os vinhos americanos cheguem em tão pouca variedade por aqui e muitas vezes com preços bizarros.
Com as garrafas vazias e enfileiradas, a visita médica foi encerrada. Polaco e eu ficamos satisfeitos com a atenção dispensada pelos doutores e felizes por fecharmos o ano com o periódico em dia.

"Doutor, eu tenho uma dor danada aqui desse lado"

Vinhos:
Robert Mondavi Private Selection Zinfandel 2008
Dante Robino Bonarda 2008
Altair Sideral 2005
Septima Gran Reserva 2008
Barolo Batasiolo 2005

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GreatWall - Um chinês 3 estrelas

Fui ao supermercado com a patroa. Um supermercado chinês. Ir com a patroa num supermercado pode ser "curioso" de várias maneiras.
Ela pode querer
comprar só um chocolate num sábado à tarde, quando o lugar está tão lotado que parece uma boite e os chineses se preparam pro cataclismo de 2012. Nessas ocasiões, faz questão de me pedir coisas como "pergunta pra funcionária se esse é fermento biológico ou fresco".

Hoje, exclusivamente por conta do blog, fui ao supermercado decidido a comprar um bino chino. Já havia provado alguns em festas e recepções, e os que provei não estavam em pé de igualdade com os bons custo/benefício que bebemos no Brasil. Mas eu queria uma experiência pessoal, uma indicação.
A patroa insistia no chileno de sempre. A seleção num supermercado local, que não seja localizado em bairro de estrangeiros, dificilmente é das mais ricas. Metade da prateleira é de franceses de qualidade e preço variável. A outra parte é dividida entre uns pouquíssimos chilenos, australianos e sulafricanos. Isso entre os binos ocidentais.

A parte de binos chineses é muito maior. Mas infelizmente, sobre várias prateleiras havia o mau agouro das placas de "compre um e leve dois". Desanimei.
Uma funcionária se aproximou e me perguntou o que eu queria. Mostrei a ela o chileno que tinha em mãos e perguntei se ela tinha algum vinho chinês realmente bom. Ela me levou direto a um cabernet sauvignon 2002 com o preço dum Amarone.
Beleza. Mas nessa faixa de preço começa a ficar difícil achar vinho ruim. Pode até não valer o preço, mas aí é diferente.
Eu expliquei pra vendedora e ela me recomendou um outro. Perguntei se ele se parecia com o que eu levava, mas preferi imaginar que o olhar de "onde estou, quem sou eu" com o qual ela me retribuiu se devia exclusivamente à minha pronúncia ruim. Um casal de meia idade que escolhia uns binos me recomendou um outro.

Esse post é pra falar do primeiro: um GreatWall 2006. A garrafa e o rótulo impressionam. Impressionam pela falta de informações. A safra, por exemplo, vem na parte de trás. Ingredientes? Uva. Me chamou a atenção que o rótulo mostrava três estrelas. Nenhum outro tinha quatro ou cinco. Mas havia um com duas.

Abri a danada e deixei o bicho dar uma respirada. Tinha cor de vinho, o que não quer dizer muito. Um vermelhinho claro, pouco saturado. E não achar nenhuma surpresa boiando na garrafa também foi confortante. Pra vocês verem como minhas expectativas estavam baixas.

No nariz, nenhuma intensidade e ainda menos persistência. No paladar, ídem. Aliás, me surpreendeu a ausência de persistência, que me chamou ainda mais atenção que a micro madeira e os taninos murchos.

Se vinho fosse música e as garrafas, alto falantes, a garrafa desse GreatWall seria uma concha e o GreatWall, o som do mar.

Pelo menos, não me deu dor de cabeça. O que me deu foi a patroa ter dito que deveria ter levado outro chileno.



General

Europa 3 x 1 América do Sul

General resolveu chamar uns amigos para uma reunião em seu Flat. Como já fazia um bom tempo que não bebia um vinho, talvez umas 24 horas, decidiu que a reunião seria uma degusta. Viva!
Éramos quatro garrafas. Eu, pra não fazer feio, levei esse Ysern Cabernet Cabernet, que nem chega por aqui. O Doutor que me trouxe de presente do Uruguai essa garrafa enfeitada. General adquiriu esse toscanão junto com aquele Brunello da Camigliano, na Cadeg. Rafael, um amigo do General, levou o Cartuxa Tinto Colheita. E o enigmático AK levou esse francês, La Taladette, do Rhône. 
De início éramos somente três. Só poderíamos contar com a presença de AK depois do "Boa Noite" de William Bonner.
Compramos uma Pizza, que deu certinho com o Poderuccio. Enquanto isso, o Uruguaio era amansado no Decanter e o Cartuxinha aguardava sua vez resfriando no gelo. Guardamos um tantinho do bom italiano para o AK e partimos para o portuga. E ele estava bala! Excelente! Uma belíssima surpresa. De nariz intenso e delicioso na boca, estava redondasso. A sensação que nos dava era a de que o vinho foi aberto no tempo exato. Foi o melhor da noite.
Eis que chega o AK, com esse Rhone trazido de última hora do Zona Sul. Outra boa surpresa. Basta dizer que depois desse dia, já bebi umas 5 vezes esse vinho. Um aroma floral bem interessante e com boa intensidade nos arrebatou. Uns pães e frios já estavam nos acompanhando a essa altura.
Era chegada a hora do uruguaio enfeitado, que deixamos como responsável pelo fechamento da noite. Infelizmente tivemos com esse vinho uma sensação inversamente proporcional à que tivemos com o Cartuxa. O vinho estava novo. Fora de tempo. Nasceu pra morar numa adega esse aí (Será que é por isso que já vem com agasalho?). Não chegou a desagradar, mas nos decepcionou no contexto. Tudo bem. Nosso saldo final foi positivo.

Essa noite ocorreu em meados de 2010.

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Vinhos:
Poderuccio Camigliano 2008
Cartuxa tinto colheita 2005
Côtes du Rhône La Taladette, Gabriel Liogier. 2009
Ysern Blend of Regions, Cabernet Cabernet  2004

Matando a enoabstinência

Reunimo-nos eu, Polaco, Doutor, General e Samurai para mais um esvaziamento de garrafas em prol das vítimas da enoabstinência crônica. Infelizmente esses coitados, que somos nós mesmos, sofrem muito com a angústia e a dor de um dia-a-dia puxado. A única esperança pra essa gente é a auto-medicação com resveratrol.
Sem combinarmos nada, eis que temos dois pinots patagônicos na mesa. Maravilha! O Saurus 2006 trazido pelo Doutor e o Barda 2008, pelo Samurai. Leves e saborosos, clássicos pinots do novo mundo da banda de cá do planeta. Dão surra de cipó na maioria dos "Bourgogne Pinot Noir" que nos empurram por aqui como jóias delicadas do velho mundo.
E o Polaco nos vem com um House of Morandé de 2001. Quase 10 anos de idade. Não sei como essa garrafa ficou tanto tempo guardada com ele. A rolha quase se desfez ao abrirmos o vinho, o que nos assustou. Mas ele foi pro decanter e estava lindo! Perfeitinho. Taninos macios, aromas sutis e complexos. Uma elegância e sabor dignos de um top chileno de idade. Deixou a coisa complicada pro lado do europeu que ficou por último com a responsa de fechar a noite, que estava boa com os sulamericanos.
O Amarone Zenato 2006 foi devidamente decantado. E arrebentou! Pra nossa alegria. Que beleza. Queimadão, aveludado, saboroso, redondinho. Só fez aumentar a boa fama dos Amarones entre nós.

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Vinhos:
Sauron Patagonia select Pinot Noir 2006
Barda pinot Noir 2008
House of Morande 2001 
Amarone Zenato 2006
 
 

O Homem da Capa Preta

Eu e minha amada recebemos em casa dois amigos. O General, claro, e Miss Bella. Fizemos um almoço (risoto de camarão) e, obviamente, esvaziamos umas garrafas. Começamos com esse Chandon, afinal de contas, era camarão e a regra é clara: Para peixes e frutos do mar, vinhos brancos ou espumantes. Ok ! Do Chandon, só ficou a lembrança da primeira taça, pois o Risoto atropelou-o de passagem sem sequer olhar no retrovisor pra saber que tranco tinha sido aquele. E a primeira taça? Bem, era um Chandon que foi brindado com dois amigos queridos e minha Deusa, numa alegre mesa de almoço. E com um agravante que era a minha filha de um ano e 6 meses fazendo gracinhas e sendo simpática com todos. Ou seja, estava "ótima" a Chandon!
Em seguida abrimos esse Tannat do Juan Carrau. Pensei no pior. Deve ser um Tannat rasgadaço! Vou abrir essa garrafa e vai sair um espírito maligno gritando clamando por cérebros humanos. Mas não... Era um Tannat bem leve até. O que nos surpreendeu positivamente (Ufa!). Curtíssimo mas agradável. O problema de evaporação quase instantânea ocorrido com essa garrafa me fez ir à adega e pegar um Montes Alpha Syrah. O risoto já era passado. A expectativa era grande. Talvez muito grande, pois só se fala maravilhas desse cara. Ok, é um bom vinho. Um certo Kung Fu de início e tal. Uma melhora significativa com o tempo na taça. Mas não sei se é o melhor da linha Montes Alpha como muitos sugerem. Infelizmente eu não sei qual era a safra. Não consigo ver na foto (alguem consegue?).
FInalizamos liquidando um Porto Sandeman mais velho que o rascunho da Bíblia! Essa garrafa meus pais me deram há muito tempo atrás, já aberta e rodada, pra que eu tivesse um Porto no meu  primeiro Apê. Isso quando sai da casa deles, há anos. E finalmente a garrafa terminou nesse dia a sua saga. O interessante é que abri um Sandeman novinho em seguida e pudemos comparar e notar a diferença abissal, em todos os sentidos, entre um líquido e outro. O velhaco deu uma surra no novato que era passível de pena. Despediu-se dando uma lição de moral das mais edificantes. Quase pude ver o homem da capa que fica no logo da garrafa virando-se e indo embora com um ar de dever cumprido.

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Santa Carménère

Sexta-feira, chegando em casa com uma pizza (hut)  embaixo do braço pra comer com minhas amadas. Ainda no carro, ou melhor, antes mesmo de chegar ao balcão externo do Pizza Hut do Arpoador, já confabulava comigo mesmo: - "qual vinho mereço hoje?"
A resposta veio enquanto aguardava a pizza no banco de madeira, que fica do lado de fora do restaurante. Um Carmenère suculento! Vamos tentar o Santa Carolina Reserva 2008, comprado no Pão de Açucar de copacabana.
Decantei só pra passar no aerador, pra enganar a patroa. Vacum vin no resto da garrafa, que foi pra adega, até as meninas irem dormir. Claro, no dia seguinte ela nao vai nem lembrar que havia uma metade de vinho na adega. Mas se ela soubesse que matei a garrafa e que faço isso vez por outra, viveria jogando uma pecha de "alcoólatra" na minha cara. Minha mãe então, certamente iria chorar ao saber.
Como a adeguinha está setada pra 15 graus, o vinho chegou a minha boca sem álcool sobrando no início. Em compensação, o nariz ficou devendo. Normal, eu queria a boca do carmenère. E ela veio. Não como eu esperava. Quem conhece carmenère sabe que um varietal dessa uva é bem peculiar. Nesse, que tinha um gosto bom e que até se enturmou com o peperoni, essa caracteristica não era tão marcante. Mas tudo bem, pensei eu. Quando as meninas dormirem e eu estiver lendo o final da biografia do Agassi ou assistindo uma reprise de futebol no canal campeão, acompanhado de minha taça marcada com a tinta da carmenère, o vinho estará melhor.
O Fato é que paguei uns 36 reais nessa garrafa e acho que valeu. Talvez incomode um pouco as moçoilas mais sensíveis. Mas não há muito kung Fu novomundista nesse cara. Álcool a 14o. e taninos semi-domados. Tendo 8 meses de barrica, é vinho pra um aninho de guarda e créu!

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No Quartel do General


Eramos eu, General e o Noruga. Tínhamos à mesa uma seleção que talvez tenha sido a mais interessante da história! Da nossa história, claro...
A idéia era irmos tomando, alternando taça a taça, um espanhol e um argentino, enquanto no decanter um Brunello ia sendo amaciado. É brincadeira?
Pois a brincadeira foi no Flat do General, e não podia ser melhor. O Septima Gran Reserva já é um clássico do custo-benefício da Cadeg. Os americanos pagam 20/25 dolares nesse vinho, enquanto nós pagamos agora 47,00 reais. Só isso já lava a alma! E o vinho é bom. Porradaria sulamericana do início ao fim. Vai melhorando e melhorando. Dividindo taça com esse belo Illana Seleccion, 92 pontos na caneta Parker, adquirido pela Sociedade da mesa. O espanhol, um tantinho mais equilibrado, um tantinho menos de corpo e um nariz um tantinho mais complexo. Já o hermano era bem negrão, encorpado. Fundo de taça com cheiro de baunilha bem presente nos dois. Acompanhados por uns petiscos, desceram redondos. Difícil dizer qual dos dois agradou mais. Talvez o Illana, mas por muito pouco.
Aí veio o Brunello di Montalcino, decantado por duas horas, na temperatura certinha. A expectativa era grande. Não de minha parte, pois eu nunca, jamais, tive um Brunello em minha taça que me encantasse. E infelizmente esse aí, ainda mais depois do Flamenco vs Tango que rolou, tomou surra de cipó.
Mesma impressão de sempre. Vinho novo fora de tempo, ácido, miúdo, fechado. O General ainda conseguiu achar uma "delicadeza" e "elegância" no líquido. Mas eu, pelo visto, ainda não estou "pronto" para um Brunello. Continuo achando que os Amarones sim, são os melhores vinhos da itália.

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os vinhos:
Casa de Illana Seleccion 2006
Septima Gran Reserva 2007
Brunello De Montalcino Camigliano 2003

A redenção via Malbec

Cheguei em casa uma e meia da manhã, depois do trabalho. Estafado! As meninas dormiam sossegadas no quarto e eu, seco por um vinho, fui na adega e deixei aberta essa garrafa do Norton DOC Malbec 2007. Fui tomar banho sem fazer o menor ruído. Não queria acordar a patroa e a pequena. Não queria ouvir sermão algum por causa de barulho de moedas sendo colocadas na gaveta (isso geralmente acorda a patroa). E não queria também que ela desconfiasse do meu plano de esvaziar uma garrafa naquela noite.
Voltando a sala fiz um sanduíche de queijo e salame, e começei a tarefa. O primeiro gole foi como uma redenção. Depois de uma jornada de trabalho que me fez ficar calculando quanto tempo falta pra minha aposentadoria, um gole de um Malbec típico e redondo como aquele me fez acreditar que se tratava de um ícone da América do Sul. Nem fiz questão de voltar a realidade durante a primeira taça. A verdade é que ele era exatamente o que eu estava precisando. Um vinho fácil que morreu fácil. Custo-benefício excelente (uns vinte e pouco na Cadeg), tem um doce lá no fundo, escondido, como em muitos Malbecs dos hermanos. Mas tudo bem! Passou com louvor e entra na pouco seleta lista dos favoritos do dia-a-dia.

Já tomou esse? Diga se estou com a razão.

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Pizzas com um italiano e um chileno

General veio aqui em casa para tomar uns binos e comer umas pizzas. Já tava com a idéia de abrir esse italiano comprado no FreeShop (U$20,00), que é o primo pobre do Barolo que haviamos tomado dias antes. Fiz as pizzas simples, de tomate com manjericão e parmesão. O Sovrana 2008 no nariz lembra o primo rico. Aquele capim molhado de leve e alguma fruta. Na boca estava macio. Achei que poderia estar novo pra abrir, mas não. Estava bem gostoso e deitou e rolou com a pizza.
Abrimos então o Orzada Carmenere 2006. O General tem uma queda, assim como eu, por essa uva. Não vou contar aqui a história da Carmeneré pois ela está contada aos montes pela internet. A verdade é que até pra leigos, como eu e o General, essa uva é facil de ser reconhecida. Vamos dizer que, numa degustação às cegas, essa uva talvez conseguissemos identificar numa taça.
Voltando ao vinho, estava rasgadaço na primeira taça. Era o próprio Bruce Lee engarrafado. Decantamos aerando, mas não demos tempo ao vinho, pois ele já nos agradava. Enfim, na última taça, ele tava redondo e no ponto. A conclusão é que dava pra guardar mais um aninho pelo menos. Apesar de que eu havia tomado o 2005 há uns meses atrás com Samurai, sem decantar, e os taninos machucavam, deixando o vinho prejudicado. O 2006 então, é melhor que o 2005, a famosa safra chilena? Não sei. O que posso afirmar é que o decanter fez a diferença. Por isso, tenha um sempre por perto. O meu é de vidro fino mesmo, comprado numa promoção num mercado, por R$29,00. Já se pagou faz tempo.

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Catena Malbec 2007

Um clássico dos hermanos. Comprado na Cadeg por R$48,00, mais barato do que na sua importadora (Mistral). Já devo ter tomado uns 5 desses ao longo dessa vida. Há que se tomar um certo cuidado com o seu teor alcoólico. Não o sirva muito acima da temperatura pois isso vai incomodar os mais sensíveis. A patroa pode achá-lo "pesado", ou "forte". Convém prepará-la para o Kung Fu sulamericano que ela encontrará em sua taça decantando ou aerando (ou ambos) o líquido negro argentino. Isso o tornará mais simpático. Mas fique tranquilo. O vinho é bom e vale o preço. Num churrascão ele deita e rola, claro. É um Malbec dos mais emblemáticos da Argentina. Se guardar por um ano ou dois, pode ser até que melhore. Mas é um vinho que TEM que ser provado!

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Degustação Cousino Macul

Nosso amigo Samurai chegara há pouco do Chile e, em visita à vinicola Cousino Macul, trouxe um exemplar do aclamado Lota 2005. O Top dos caras. Como eu tinha ganho de aniversário certa vez um Finis Terrae 2006, o segundo vinho da vínicola, bastaría que tívessemos um Don Luis e um Antiquas Reserva para que pudéssemos fazer uma degusta com quase toda a linha de tintos da CM (faltou apenas um Dom Matias, que não achamos por aqui).
Mesmo assim, organizamos, na casa do Samurai, essa grande noite. E era realmente uma noite especial, pois o filho do japa mora em Londres e estava no Brasil de férias. Ouvimos suas aventuras na terra do chuveirinho na área (ok ok, eu poderia ter dito beatles, big ben, libra, rainha e etc). O Doutor, o Polaco e mais duas amigas do samurai, completavam nosso grupo degustante.
Começamos com o Don Luis (Cabernet sauvignon). Honestinho, jovenzinho, curtinho e redondinho. É dos que joga de volante no time do "custo-benefício". Se o sujeito estiver vindo de uma abstinência relativamente grande, mata a garrafa num golpe (o General já fez isso).
Havia beliscos na mesa, é bom ressaltar. Paes, pastinhas, queijos e iguarias preparadas pelo samurai talentoso. Partimos pro Antiquas Reserva, também CS, e um salto de qualidade consideravel foi dado. Mais tânico, mais madeira. Mais Kung fu, pra ser mais claro. O Antiquas joga de atacante no mesmo time do Don Luis. Ainda mais se comprado na Cadeg, por menos de 40 pilas.
Partimos então pro Finis Terrae, e aí entramos num outro patamar. Esse foi devidamente decantado. É um Cabernet com merlot macio, redondo, e com um toque de tostado e pimenta que esquenta e alegra a alma.  Curiosamente, os entendidos não costumam ser generosos com ele. Mas eu me faço de desentendido e o coloco entre meus favoritos.
E fomos pro Lota 2005. Icone parrudo. Safra consagrada. Moral alta. Chutou o traseiro de todos os tops chilenos numa degustação às cegas no Chile. Ok, mas e na taça? Um vinhaço!  Um aveludado que impressiona. Era tão cheio de boas informações no nariz e na boca que me ative somente ao prazer de bebê-lo. Além do mais, já era o 4o. vinho da noite, que  foi fechada com chave de ouro cravejada com diamantes!
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