Enquanto há vida, há esperança


Desde o passeio à muralha não provávamos alguma coisa diferente. Estávamos entre o Caliterra Estate Grown Carménère 2008, que é uma das nossas opções de dia-a-dia e a esperança de achar alguma coisa bacana nos mercados do centro da cidade.
As fotos (de celular, perdão) são do Caliterra Merlot Reserva 2006, que acabou atravessando no kung fu. Muito álcool (14,5%!!!), madeira, ameixa. Não entrou pro cotidiano.
Já o Caliterra Carménère 2008 é um vinho honestinho, que não surpreende nem decepciona (pela faixa de preço). Gostosinho, fácil, acompanha bem aquele jantar de terça sem muito esforço, bastando uma respiradinha pra aliviar os 13,5% que vem debaixo do capô. E é uma das melhores opções de dia-a-dia que achamos. Está por volta de 26 reais e não é encontrado em qualquer supermercado, vejam bem!
E bem quando a esperança já estava quase morrendo, a patroa achou, pela internet, um promissor bar de vinhos em Sanlitun, o coração da vida noturna de Pequim. Depois de um ótimo jantar no Alameda, restaurante de cozinha contemporânea onde trabalha o incansável e bem-humorado chef Thomazini, fomos com nossa convidada de Hong Kong, a incrível senhora Lily, à primeira visita ao tal bar de vinhos.
Não vou entrar nos detalhes do bar pra não estragar o post que está por vir. Basta dizer que o ambiente é muito bom, existem muitas opções de vinhos importados, um staff competente que guia os clientes pelas opções e uma carta bacana, composta na maior parte de franceses, como a direção da casa.
Escolhi o italiano Gregorina Sangiovese di Romagna Superiore 2008 dum produtor que só faz dois vinhos: os Sangiovese Superiore e Riserva.
Logo no nariz, a promessa de muita coisa boa, já completamente diferente dos eno-maus tratos a que tenho sido submetido no oriente. Na boca, bom corpo, taninos em perfeito equilíbrio, sabores de cereja, ameixa, notas de ervas, tudo em harmonia. Uma delícia tão grande que surpreendeu a mesa. Logo no primeiro gole, a satisfação de re-encontrar uma qualidade que me dava tanta saudade. A bebida marcou bem a noite, em que, por uma daquelas coincidências, ainda se juntou a nós um grupo de amigas jornalistas que foram botar o papo em dia bebendo um vinho pra espantar o frio do vento noturno da primavera.
Ao chegar em casa, fui procurar o Gregorina na internet e achei por entre 9 e 11 euros... na Europa. Por aqui, nunca achei em mercado nenhum. Paguei 33 euros (75 reais) no bar. Eita, ágio! Mas não dá pra ir pro céu sem morrer. Se acharem por aí, postem o preço. Uma beleza dessas numa prateleira de mercado pode salvar as esperanças de muita gente.

General

Vinhos:
Caliterra Merlot Reserva 2006
Caliterra Estate Grown Carménère 2008
Gregorina Sangiovese di Romagna Superiore 2008

Um Amarone conhecido e um Châteauneuf molenga no Epcot


Olhem só o que eu achei na lojinha de bebidas do pavilhão da Itália. Aquele Amarone Sartori, recém tomado e comentado: "Infelizmente acho que jamais darei outra chance a esse cara...". Ah, a velha questão das oportunidades, sempre citadas por aqui pelo General. Me lembrei também de uma frase que minha mãe costumava dizer, mas vou deixá-la pro final.

Entrei na loja e o dito cujo, da safra 2007 estava lá, como vinho do dia. Saindo por 10 doletas a taça (já com a taxa local). Havia outras opções como um Brunello (13 com a taxa) e um Rosso. Mas eu fui no Amarone, pra matar a questão e pra acompanhar o belo pedaço de pizza quadrada vendida no pavilhão italiano.
Na tacinha de plástico, cheia até a borda, tive uma impressão um pouco melhor que da outra vez (um 2003). É um vinho gostoso, que tava mais vivo que o outro, claro. Agradou, mas que não me emocionou novamente. A pizza, que já nos tinha sido bem  recomendada, era muito boa mesmo.
 

No pavilhão da França, com mais opções disponíveis, bati o olho num Chateauneuf e mal olhei pros outros. Pedi uma taça, que custava o mesmo preço do Amarone. O truque é esse: Eles pegam 10 dolares, tiram os 6,5% da taxa local e colocam esses U$9,39 da plaquinha. Seria algo que lembra um pouco o nosso  R$9,99 muito comum por aqui.
O vinho não valia nem a metade. Inexpressivo, anoréxico e inodor. E sem pinta nenhuma de que vai evoluir muito com o tempo. A garrafa desse fulano saía por U$60,00. Quase um negócio da China (desculpe a brincadeira, General)!

Só não vou dizer que dessa "água" não mais beberei pois, citando agora a frase de minha mãe: "A lingua é o chicote do corpo".

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Vinhos:
Amarone Sartori 2007
Chateauneuf-du-pape Vidal-Fleury 2007

Primeiro dia na Flórida. Na farmácia...


Na última semana estive fora. Fui até a Flórida com uns amigos, para um casamento em Fort Lauderdale. Claro, aproveitei os últimos resquícios de férias do ano passado e ficamos quase uma semaninha em Orlando passeando, comprando e degustando.
A foto abaixo é muito representativa, tanto com relação ao disparate de preços que há entre lá e cá, quanto com a diferença entre os dois mercados consumidores propriamente ditos.
O vinho em questão, um Robert Mondavi Private Selection Cabernet Sauvignon 2009, assim como todo o restante da linha (pegamos o Pinot Noir pra tomarmos no hotel em copos de plástico) custa o equivalente, já com a taxa de 6,5% local, à R$20,00. Isso na Walgreens, que é uma farmácia (!!!) gigante, que mais parece uma loja de conveniência anabolizada. Coisa de americano.

Os americanos podem realmente usar o termo vinho de dia-a-dia.

Por aqui, podemos encontrá-lo na Lidador, por 87 pratas, na Loja de bebidas, por R$87,90 e na Wine, onde o vinho, na promoção, está saindo de R$90,00 por R$67,50.



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Great Wall, na Grande Muralha!


Quando foi embora da China, o Sr. Gitzelmann não deixou apenas saudades de sua agradável companhia. Deixou também uma garrafa do Great Wall Cabernet Sauvignon 2006. Os leitores devem lembrar que até agora, as tentativas com vinhos chineses na faixa de preço dos bons dia-a-dia que vemos no Brasil não deram certo. Se compararmos o café com o chá, a diferença entre o sabor de um vinho chinês e de um chileno do quotidiano ficam na mesma.
Mas o Great Wall Cabernet Sauvignon 2006 nem parece um vinho comum: vem acondicionado numa impressionante caixa de madeira, realmente bonita, e ao abri-lo, a garrafa parece vir com as marcas do tempo e sujeira direto da vinícola. 
Conhecendo os produtos chineses, sei que tudo, absolutamente tudo vem em mais embalagens do que o necessário, muito mais do que estamos acostumados no ocidente. Biscoitos vem embalados num saco, numa base de plástico injetado e a embalagem de fora. O queijo prato vem embrulhado num papel, fechado num plástico transparente e envolto na embalagem de fora, que tem as informações do produto. Até tangerinas vem em sacos individuais! Então, essa caixa de madeira, embora impressionante, pra mim parecia uma desculpa pra deixar o preço mais alto. As marcas na garrafa, acreditem se quiser, eram de um acabamento jateado leve que dá a impressão de poeira, sujeira ou idade. Na minha opinião, essa pirotecnia é feita pra impressionar quem não conhece vinhos.

Essa semana, procurando vinhos num supermercado, encontrei uma jovem senhora que procurava um vinho sob as mais bizarras recomendações da funcionária do supermercado. Recomendei um bom chileno, já que os franceses que estavam na prateleira levavam um ágio pela "appellation d'origine". Ela disse preferir um vinho caro e/ou famoso, já que se tratava de um presente. Então, vinho francês, caro, ou os dois, é garantia de vinho bom pros chineses.

Há um bom tempo eu esperava uma ocasião de fazer um bom post com esse Great Wall 2006. A oportunidade veio ontem, um dia muito bonito, de tempo aberto, quando fui até o trecho Mutianyu da Grande Muralha. Fica a 70km a nordeste de Pequim e é um dos trechos mais bem conservados de toda muralha. Sua construção foi iniciada em meados do século VI. Já fui em outras estações do ano e agora, as cerejeiras brancas começam a cobrir a paisagem depois do inverno seco e rigoroso. 

Fui direto ao ponto mais alto do trecho permitido aos visitantes. Lá chegando, abri a caixa, conferi o acabamento jateado da garrafa e imediatamente a abri. No nariz, não veio lá tão pujante, mas é normal alguma timidez. Nem tempo pra descansar direito ele teve; saiu e foi direto pro trabalho. Na boca, a primeira impressão foi positiva. Pra quem esperava um chá de uvas... E, servido sem resfriar, nos agradáveis 22 graus (aproximados) que fazia lá em cima, a primeira impressão foi de que sobrava álcool. E com 13 graus de álcool, não tem porque sobrar. Essa impressão mais tarde diminuiu.
Apesar de ser um vinho bem melhor que todos os outros chineses que já provei até agora (o que não é lá um super mérito), não há nele um equilíbrio de sabores ou aromas que justifiquem o preço, de 300 yuans - algo como 75 reais atualmente. O Great Wall Cabernet Sauvignon 2006 ainda não se compara a um bom argentino, chileno ou australiano da metade do preço. Os efeitos especiais também acabaram tirando a confiança de que, no que eu bebia, havia um vinho honesto. Não sei se já encerro as buscas por um vinho chinês realmente bom. De custo/benefício, já desisti.

Como bons vinhos e boas oportunidades são assuntos entrelaçados, devo dizer que beber um Great Wall apreciando 15 séculos de história numa bela paisagem não foi nada mal. Isso, pelo menos, posso recomendar ao leitor sem medo de errar.

General

Um Amarone no supermercado


Comprei esse Amarone no Zona Sul da Rua Jardim Botânico, que é muito mais bem servido em sua prateleira de vinhos do que a filial daqui da Urca. Esse aí, O Amarone Sartori 2003, era filho único e, por R$99,00, não resisti. Achar um Amarone por menos de 100 pratas é tarefa pra detetive da CIA. É muita sorte. Ou muito azar, pois era um risco. Só Deus sabe o histórico dessa garrafa que estava em pé numa prateleira de supermercado.
Como eu não conhecia esse aí, depois de comprar fui pesquisar na internet pra ver se tinha alguma chance de ter feito um bom negócio. Achei-o na Winemag, que é ótima pra essas coisas, pois é free e tem uma boa quantidade de vinhos provados. Lá, consta que esse cara, independentemente da safra, custa por volta de U$40,00 na América e que vale ( aí dependendo da safra) entre 88 e 91 pontos. Ok, é um Amarone afinal de contas. 

Um Amarone de 8 anos num supermercado
Levei-o num almoço de fim de semana com o Doutor e Polaco. Foi decantado por um bom tempo e harmonizado com um filet mignon bem molhado. O vinho agradou à todos os que provaram. A Doutora, esposa do polaco, adorou. Era um bom vinho. Mas não me empolgou. Não estava redondo. Tampouco macio e aveludado. Não tinha aquela expressividade e vigor de um Amarone bala! E acho até que, se ficasse mais tempo na garrafa, não faria tanta diferença.

Infelizmente acho que jamais darei outra chance a esse cara. Por esse valor eu encontro a enofelicidade mais facilmente, não num outro Amarone, mas num Carmenere ou num Malbec daqui de perto, cheios de Kung Fu pra dar.

Talvez dê até pra dois!

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Chileno resgatado: Primus 2005


Esse é mais um herói que foi resgatado da assadeira do Polaco.

O rótulo já tava "pedindo pra sair"
O Primus 2005 é o principal tinto da vinícola Veramonte. Um cortado que varia a cada ano. Essa safra foi com Carmeneré, Cabernet Sauvignon e Merlot.
Esse vinho é um dos poucos que podemos comprar aqui no Brasil com um preço bem próximo do original. No Rio ele é vendido no mercado Zona Sul e volta e meia entra numa promoção por uns 38 contos. Lá fora deve estar custando por volta de U$20,00.
Resistiu bem ao inferno pelo qual passou. Deve ter encarado pelo menos uns 3 verões na assadeira. Eu não esperava nada e ele estava bem interessante.
Escurão com bom corpo. O nariz tava tímido, mas também não me esforcei pra puxar conversa. Já na boca estava bem vivo, com um tostado bem marcado que se destacava. Me agradou bastante.

Polaco mais uma vez coloca em dúvida a velha questão sobre como armazenar um vinho. É um revolucionário esse sujeito!

Ele ainda coloca um casaco em alguns!
                                  
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