Uma magnum italiana na China

Recebi em minha humilde residência o Sr Gitzelmann, vindo da Suíça para passar aqui o Festival da Primavera, o ano novo chinês. Esse jovem e amável senhor já seria normalmente bem-vindo, mas esse ano, ele trouxe novamente mais um motivo para continuar sendo querido: uma garrafa do Canneto Riserva 2005. E uma garrafa magnum, daquelas com ponta oca e carga dupla. Pesada, escura, do jeito que o Polaco gosta! (mais sobre garrafa magnum nesse interessante link ).

Aí segue uma curiosidade pra ampliar os sabores dessa história: a vinícola é de propriedade de sua família!

residência de verão da família na Toscana

 Logo no rótulo, lê-se "Vino nobile di Montepulciano"! Pra um camarada forçado a beber vinhos "compre 1, leve 2" dos mercados chineses, qualquer lembrança da Toscana é uma mesa posta pro jantar, encontrada por um náufrago. E nem adianta falar de custo/benefício, porque sei que não existem distribuidores dessa beleza no Brasil - muito infelizmente.

a grandeza da magnum
Fui ao website (http://www.canneto.com) e conferi as informações: 90% Prugnolo Gentile (Sangiovese grosso), e mais 10% de Canaiolo nero, mammolo, cabernet sauvignon e merlot - um corte feito com uvas totalmente cultivadas ali mesmo, na bonita Montepulciano.

Além dos 30 meses em barris de carvalho francês (e mais 6 na garrafa), o Vino di Montepulciano tem uma história de elogios bem mais longa, que começou no ano 790. Em 1549, São Lancério, mestre da adega do Papa Paulo III, se referiu ao vino nobile como "Vino perfettissimo da Signori". Eu não entendo patavinas de italiano, mas imagino que elogios vindos de um santo sejam mais impressionantes que um 100 na caneta Parker! E lendo sobre a história do São Lancério, dá pra ver que ele entendia! Bebia muito, escrevia, e começou a usar termos como "redondo", macio", "maduro", "forte", que são hoje usados pelos sommeliers mundo afora. É considerado um dos grandes especialistas da história da enologia.

Como sempre, abrimos a garrafa e deixamos o danado respirar. A cor é densa e o aroma ainda mais. Aquele aroma de ação e aventura que os bons vinhos tem. Intenso, persistente e complexo. Não vou falar de "couro" ou "madeira". Deixo isso pro santo. O aroma desse vinho me deu a sensação de abrir o capô de um V12 e ouvir o motor roncando. Possante e forte, mas com aquela ideia de que o melhor ainda está por vir. E estava.

Harmonização antecipada?
A ocasião não podia ser melhor. E não há ocasião que uma garrafa duplo impacto dessas não melhore. Os 14% sob o capô garantem o que estou falando. E passam despercebidos, no meio de tanto sabor. Os taninos não são brincadeira. Pura corrida de bigas. E é sem nenhuma dúvida um vinho de guarda, que pode ficar anos na adega esperando a hora de sair. Acho mesmo que uma beleza dessas pode ficar muitos anos na adega, ensinando paciência ao dono. Naturalmente, acompanha bem carnes molhudas, e outros pratos sem frescura.E na pequena e pura Montepulciano, elas vão até as vinhas!

No fim da noite, o Sr Gitzelmann mostrou seus dotes fazendo uma bebida pirotécnica com o brandy chinês Changyu (que ele garante ser o melhor do mundo) e café.

Espero que ele tenha motivos para voltar aqui ano que vem. Eu tenho motivos de sobra para recebê-lo!


General

3 comentários:

BK72 disse...

Mais um belo post, General.

Que beleza essa magnum, hein?

O Doutor tem uma argentina, do Bcrux, que já deve tá no ponto.

Eu sei pq eu que dei pra ele. hehe.

doutor disse...

Ô General, avisa pro Sr Gitzelmann que a minha casa está aberta pra visita dele quando vier ao Brasil ( é bom lembrá-lo de vir bem acompanhado). Quanto ao Bcrux, apesar do BK ter se convidado pra abri-lo, vou tentar ( não sei se conseguirei) guardá-lo para quando vieres por aqui. Parabens pelo post.

BK72 disse...

Doutor,

Será que o Mariano da Cadeg ou o Odara, do Symposium, não se animariam a importar esse vinho, hein?

Se for esperar pelo General pra abrir a tua Magnum, será por pelo menos um ano.