GreatWall - Um chinês 3 estrelas

Fui ao supermercado com a patroa. Um supermercado chinês. Ir com a patroa num supermercado pode ser "curioso" de várias maneiras.
Ela pode querer
comprar só um chocolate num sábado à tarde, quando o lugar está tão lotado que parece uma boite e os chineses se preparam pro cataclismo de 2012. Nessas ocasiões, faz questão de me pedir coisas como "pergunta pra funcionária se esse é fermento biológico ou fresco".

Hoje, exclusivamente por conta do blog, fui ao supermercado decidido a comprar um bino chino. Já havia provado alguns em festas e recepções, e os que provei não estavam em pé de igualdade com os bons custo/benefício que bebemos no Brasil. Mas eu queria uma experiência pessoal, uma indicação.
A patroa insistia no chileno de sempre. A seleção num supermercado local, que não seja localizado em bairro de estrangeiros, dificilmente é das mais ricas. Metade da prateleira é de franceses de qualidade e preço variável. A outra parte é dividida entre uns pouquíssimos chilenos, australianos e sulafricanos. Isso entre os binos ocidentais.

A parte de binos chineses é muito maior. Mas infelizmente, sobre várias prateleiras havia o mau agouro das placas de "compre um e leve dois". Desanimei.
Uma funcionária se aproximou e me perguntou o que eu queria. Mostrei a ela o chileno que tinha em mãos e perguntei se ela tinha algum vinho chinês realmente bom. Ela me levou direto a um cabernet sauvignon 2002 com o preço dum Amarone.
Beleza. Mas nessa faixa de preço começa a ficar difícil achar vinho ruim. Pode até não valer o preço, mas aí é diferente.
Eu expliquei pra vendedora e ela me recomendou um outro. Perguntei se ele se parecia com o que eu levava, mas preferi imaginar que o olhar de "onde estou, quem sou eu" com o qual ela me retribuiu se devia exclusivamente à minha pronúncia ruim. Um casal de meia idade que escolhia uns binos me recomendou um outro.

Esse post é pra falar do primeiro: um GreatWall 2006. A garrafa e o rótulo impressionam. Impressionam pela falta de informações. A safra, por exemplo, vem na parte de trás. Ingredientes? Uva. Me chamou a atenção que o rótulo mostrava três estrelas. Nenhum outro tinha quatro ou cinco. Mas havia um com duas.

Abri a danada e deixei o bicho dar uma respirada. Tinha cor de vinho, o que não quer dizer muito. Um vermelhinho claro, pouco saturado. E não achar nenhuma surpresa boiando na garrafa também foi confortante. Pra vocês verem como minhas expectativas estavam baixas.

No nariz, nenhuma intensidade e ainda menos persistência. No paladar, ídem. Aliás, me surpreendeu a ausência de persistência, que me chamou ainda mais atenção que a micro madeira e os taninos murchos.

Se vinho fosse música e as garrafas, alto falantes, a garrafa desse GreatWall seria uma concha e o GreatWall, o som do mar.

Pelo menos, não me deu dor de cabeça. O que me deu foi a patroa ter dito que deveria ter levado outro chileno.



General

4 comentários:

BK72 disse...

Belo post, General.

E justo na China o vinho não tem Kung Fu.

Bk72

Leigo Vinho disse...

Este post é sensacional.
Abs

BK72 disse...

Leigo,
Já aguardo ansiosamente pra saber sobre esse outro vinho que ele comprou.

Abs
BK

doutor disse...

Acho impressionante a falta de sensibilidade das mulheres. Fiquei orgulhoso do seu sacrifício ( trocou um chileno por um chineno). Se não fosse por essa experiência, não teríamos esse post. Acho que esse bino fez bem a você e te inspirou.
Abraço